Muitas vezes julgamos os fatos ou situações que ocorrem em nossas vidas como sorte ou azar, feliz ou infeliz, capaz ou incapaz, competente ou incompetente, feio ou bonito, rico ou pobre, escassez ou abundância, enfim, julgamentos que fazemos sem avaliar as coisas sob o ponto de vista do "TODO", de situações que, na verdade, fazem parte de um processo de construção de vida.
A vida é um processo, um processo alinear, muitas vezes contraditório
sob nosso ponto de vista, mas ao avaliar o "TODO", nos insere em
condições que provocam ensinamentos únicos em nossas vidas. Situações que
trazem à tona, precocemente, julgamentos como os citados acima. Simplesmente
julgamos, mas não analisamos os fatos, não nos perguntamos o porquê tal fato
ocorreu em nossa vida e o que devo aprender com isso, como, apesar de todas as
adversidades, posso superar tal dificuldade.
Fugir de situações difíceis pode ser cômodo, mas não lhe proporcionará o
crescimento pessoal e profissional que tanto sonha alcançar. Comodidade é
estagnação. Frequentemente reclamamos por trabalhar sob pressão, mas é
justamente nestes casos que despertamos para novos horizontes, para novas
soluções.
Reclamar ou simplesmente se contentar com os fatos negativos ou
positivos, respectivamente, pode ser perigoso. O sentimento de tristeza ou de
euforia imediatista decorrente desses fatos pode ser perigoso, não é que você
não pode se alegrar com um fato ou uma conquista importante em sua vida, mas
isso não pode ser um motivo para você "baixar a guarda", se acomodar
e achar que tudo está certo e que sua vida mudou completamente. Lembre-se, a
vida é um processo. Esteja atento a tudo e haja proativamente em busca das
"coisas positivas".
Vasculhando alguns papéis guardados há algum tempo, encontrei um conto
de origem chinesa que retrata muitas destas experiências e que reflete o
processo da vida e a ponderação com que devemos vivenciá-las.
Sorte ou Azar?
Havia numa aldeia um velho muito pobre, mas até reis o invejavam, pois
ele tinha um lindo cavalo branco. Reis ofereciam quantias fabulosas pelo
cavalo, mas o homem dizia: "Este cavalo não é um cavalo para mim, é como
se fosse uma pessoa. E como se pode vender uma pessoa, um amigo?" O homem
era pobre, mas jamais vendeu o cavalo.
Numa manhã descobriu que o cavalo não estava na cocheira. A aldeia
inteira se reuniu e disseram: "Seu velho estúpido! Sabíamos que um dia o
cavalo seria roubado! Teria sido melhor vendê-lo, que fatalidade!" O velho
disse: "Não cheguem a tanto. Simplesmente digam que o cavalo não está na
cocheira. Este é o fato, o resto é julgamento. Quem pode saber o que vai se
seguir?"
As pessoas riram do velho, sempre souberam que ele era um pouco louco.
Mas quinze dias se passaram e, de repente, numa noite, o cavalo voltou. Ele não
havia sido roubado, ele havia fugido para a floresta e não apenas isso, ele
trouxera uma dúzia de cavalos selvagens consigo. Novamente, as pessoas se
reuniram e disseram: "Velho, você estava certo, não se trata de uma
desgraça, na verdade provou ser uma benção."
O velho disse: "Vocês estão se adiantando mais uma vez. Apenas
digam que o cavalo está de volta. Quem sabe se é uma benção ou não? Este é
apenas um fragmento. Se você lê uma única palavra de uma sentença, como pode
julgar todo o livro?"
Desta vez as pessoas não podiam dizer muito, mas interiormente sabiam
que ele estava errado, afinal, agora eram doze lindos cavalos.
O único filho do velho começou a treinar os cavalos selvagens. Apenas
uma semana mais tarde ele caiu de um cavalo e fraturou as pernas. As pessoas
mais uma vez julgaram e disseram: "Você tinha razão novamente. Foi uma
desgraça. Seu único filho perdeu o uso das pernas e na velhice ele era seu
único amparo. Agora você está mais pobre do que nunca."
O velho disse: "Vocês estão obcecados por julgamento. Não se
adiantem tanto. Digam apenas que meu filho fraturou as pernas. Ninguém sabe se
isso é uma desgraça ou uma benção. A vida vem em fragmentos, mais que isso
nunca é dado."
Aconteceu que, depois de algumas semanas, o país entrou em guerra e todos
os jovens da aldeia foram forçados a se alistarem. Somente o filho do velho foi
deixado prá trás, pois se recuperava das fraturas. A cidade inteira estava
chorando, lamentado-se porque aquela era uma luta perdida e sabiam que a maior
parte dos jovens jamais voltaria. Elas vieram até o velho e disseram:
"Você tinha razão velho, o que aconteceu com seu filho foi uma benção. Seu
filho pode estar aleijado, mas ainda está com você. Nossos filhos forma-se para
sempre."
O velho respondeu: "Vocês continuam julgando. Ninguém sabe! Digam
apenas que seus filhos foram forçados a entrar para o exército e que meu filho
não foi. Mas somente Deus sabe se isso é uma benção ou uma desgraça.Não devemos julgar,
pois o julgamento nos deixa obcecados com fragmentos e deixamos de crescer
porque o nosso mental fica estagnado. Julgar é um processo sempre arriscado e
desconfortável."
A jornada nunca chega ao fim. Um caminho termina e outra começa. Uma
porta se fecha e outra se abre. Atingimos um pico e sempre existirá um pico
mais alto. Precisamos aprender a não julgar, pois quando não sentimos esta
necessidade, estamos satisfeitos simplesmente em viver o momento presente e de
nele crescer. Somente assim caminhamos em harmonia com as Leis Divinas.